segunda-feira, março 23, 2009

Do Aborto, Drogas e suas liberações.

Bem, em virtude das minhas últimas postagens (relativos a errônea interpretação da opção do arcebispo de recife) talvez minha opinião (que acho já ter expressado em alguma postagem) sobre o assunto "aborto" e mesmo sobre coisas similares como a legalização/liberação das drogas tenha ficado meio obscurecida, e nesta espero poder acertar isso. Caso a impressão seja errada, conto com a com compreensão de meus parcos leitores.

Embora seja católico e como tal considere o aborto um pecado mortal (e passível da maior penalidade institucional pela ICAR, esta vetusta instituição interessada em almas e não carnes, em seus melhores e mais brilhantes momentos), sou também contrário a que ele seja criminalizado pelo Estado, e pelos mesmos motivos pelos quais sou a favor da liberação e legalização de toda e qualquer droga. Ideologicamente, eu sou - ou pelo menos gosto de pensar que sou - liberal (embora 'traia' meu antecessores e não espose seu anticlericalismo), e gosto de pensar que as pessoas (depois de uma certa idade ou pelo menos até que assim se declarem) são grandinhas e inteligentes o suficiente para tomar suas próprias decisões e pagar por elas (logo sempre achei muito estúpida a idéia que 'o povo brasileiro é bom e padece sob o peso de uma elite política corrupta', balela, o povo é tão bom quanto suas elites e vice-versa).
Logo, embora ache fundamentalmente - e moralmente - errado a realização de um aborto (em qualquer ocasião) não creio defensável que o Estado escolha no lugar da pessoa se ele deva ser realizado ou não, nem que este mesmo Estado decida o que uma pessoa possa usar de psicotrópicos. Em ambos os casos a escolha é pessoal e moral, se a pessoa acha legal ficar falando feito retardado depois de fumar maconha isto é problema dela, se ela acha que deve matar um feto, problema dela também. No primeiro caso ela danifica sua saúde e no segundo (pelo menos para aqueles de minha religião) condena sua alma a danação eterna.

Agora, em ambos os casos não é possível uma posição de simples liberar, explico:

Aborto: certo um aborto é uma opção moral pessoal, mas é escolha da futura mãe ou o pai também pode dar pitaco? Terá o pai direito a impedir um aborto? Mais, se os ditos pais não tem direitos ou voz sobre a vida/nascimento de seus rebentos, é correto responsabilizá-los quando estes nascem vivos? Eles podem ser exigidos a pagar o sustento deles, se a decisão foi exclusivamente da mulher? E quem deve pagar pela intervenção? O Estado? Mas por que ele pagaria se a escolha a ter a relação foi das próprias pessoas? E quando será possível fazê-lo? Será correto um aborto eugênico? Mas se não o for, caberia apenas a mulher ou o casal não motivar o aborto. E por que eles deveriam motivar?
Drogas: quem poderá comprar ou produzir? Será necessário que o Estado crie ou ofereça tratamentos de recuperação para os viciados? E se o fizer por que deveria? Afinal ninguém do Estado obrigou o cidadão a usar drogas. E os problemas de saúde relacionados? Será correto que o Estado arque com eles? Eu não creio.

Logo, para mim, ambas as condutas (idiotas creio eu) podem e devem ser descriminalizadas (mas apenas quando as perguntas forem decididas e quando as conseqüências das mudanças forem enfrentadas, algo que nós no Brasil não temos costume de fazer, muito pelo contrário), pois não creio que possa caber ao Estado cuidar a alma ou moral de um cidadão (embora creia que todos os grupos de pressão devam se expressar e tenham direito de tentar convencer pessoas a usar ou não drogas e fazer ou não abortos)

4 comentários:

Júlia disse...

Gosto da proibicão das drogas...mas sou contra a proibicão do aborto. Só vira humano quando são criadas as primeiras conexões nervosas. Antes, é só um monte de células, que pode ser que vire alguém...

Leo. disse...

moaç na verdade não tratei disso. até pq o STF já decidiu neste sentido no Brasil.

flávia disse...

Eu uso DIU,quer dizer que faço vários micros-abortos,se assim fôr.Continuarei fazendo,e queimarei no fogo do inferno.O conhecimento dos métodos contraceptivos cientificamente aprovados permite uma vivência positiva da sexualidade. A contracepção é um direito da mulher. Essa história de que métodos anticoncepcionais violam os direitos humanos é retrógrada, burra, acéfala, autoritária, um acinte,um disparate a liberdade individual das mulheres. E garante a mulher tenha o direito de ter um filho quando quiser, é uma opção. Posso até não ter os genes egoístas de Dawkins.Agora não é uma teoria religiosa que me fará mudar de idéia.

Leo. disse...

Sim, faz. E sim de acordo com o pressuposto assumido vai. Algo bem lógico, não?
E uma ideia "retrógrada, burra, acéfala, autoritária" não tem que fazer nada para vc mesmo. Pq teria? Mas é uma idéia e uma que merece tanto respeito quanto a sua, afinal ambas são idéias.
Tudo é uma opção. A minha pessoalmente é a de que é sim um pecado e algo moralmente condenável, mas é também algo de escolha individual, logo não cabe ao Estado obrigar ninguém a nada, assim como não cabe a ele gastar grana com isso.
"Tipo como que nem" as drogas.